As ligações históricas de Vila do Conde à construção naval em madeira e à Epopeia dos Descobrimentos Portugueses são sobejamente conhecidas, estando devidamente estudadas e fundamentadas. Aliás, ainda hoje a cidade, orgulhosa do seu passado, mantém preservados vários traços dessa época.
A sua localização geográfica aliada às condições naturais e ao empenho das suas gentes contribuíram para o florescimento de uma indústria sem paralelo que permitiu o desenvolvimento de Vila do Conde em diferentes vertentes.
A tradição da construção de embarcações em madeira remonta ao século XVI, e daqui terá resultado uma série de actividades paralelas que, nos tempos actuais, se preservam e incentivam. O exemplo mais notório continua a estar relacionado com a produção das rendas de bilros, mas o artesanato de Vila do Conde não se resume à emblemática iniciativa das rendilheiras.
Figuram entre os produtos artesanais locais, os barcos em miniatura, os nós de marinheiro, as camisolas de pescador, as mantas e tapetes e os trabalhos em ferro forjado.
Camisolas de Pescador
Embora seja característica de praticamente todas as localidades piscatórias, a manufactura de peças de vestuário em lã conheceu grande expressão na freguesia de Azurara, onde actualmente ainda se produzem e comercializam estes produtos de lã grossa, em côr branca ou parda, artefactos que acompanhavam os homens do mar, protegendo-os do frio. A pouco e pouco, estes artigos de vestuário entram no uso corrente da população, mas preserva as características artesanais: trabalho doméstico, utensílios de produção antigos e motivos decorativos relacionados com o mar.
Ferro Forjado
Trata-se de uma arte em claro declínio, já que a introdução de novas tecnologias e outros metais fez diminuir, em muito, o trabalho executado pelos ferreiros. No entanto, é ainda possível encontrar oficinas em Vila do Conde onde as peças são tratadas como verdadeiros processos tradicionais. São realizadas autênticas obras-primas, como gradeamentos, portais, cataventos, “espelhos” de fechaduras, aldabras. A técnica de trabalho tem as seguintes fases: o ferro é posto ao rubro na forja, malhado na bigorna com os martelos e, por fim é torcido com as tenazes.
Mantas e Tapetes
Rio Mau e Fornelo são as freguesias do Concelho de Vila do Conde onde esta arte tradicional mais se expandiu e onde ainda é possível encontrar artesãos que se dedicam à produção e comercialização das mantas e tapetes de trapo. São uma das mais modestas formas de expressão da tecelagem, uma vez que inicialmente tinham como finalidade aproveitar os farrapos velhos de lã de ovelha. Hoje em dia, são executados com restos de outros tecidos, cortados em finas tiras que se unem por nós ou alinhavos. As peças são tecidas em teares manuais tradicionais e podem ser lisas ou com “puxados”. A arte da combinação das cores contribui para a valorização da peça.
Miniaturas e Nós
Desde sempre ligada às actividades marítimas, Vila do Conde possui o maior núcleo piscatório do Norte do País. Nos dias em que se encontram impedidos de sair para a faina, os homens do mar dedicam o seu tempo a outras actividades. A preparação das redes e a produção de pequenos artefactos artesanais são alguns exemplos.
Honrando as suas tradições de artífices exímios da construção naval, os homens executam pequenas miniaturas de barcos, alguns introduzidos em garrafas de vidro, que primam pela perfeição e riqueza dos seus pormenores. Os pescadores e marinheiros executam, ainda, com cordas, uma grande variedade de nós que são utilizados para barcos, redes e em quadros para decoração.