Classificada como Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 2017, e integrando o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial desde 2014, a produção de Figurado em Barro de Estremoz tem, este ano, uma maior participação na Feira Nacional de Artesanato.
Vários oleiros de Estremoz deslocaram-se até Vila do Conde para exibir a sua arte e divulgar este Património Mundial da Humanidade. Assim, até 4 agosto, os visitantes da Feira Nacional de Artesanato terão oportunidade de apreciar os famosos “Bonecos de Estremoz”, uma arte com mais de três séculos, aqui representada por Inocência Lopes, Maria da Conceição Cunha, Carlos Alberto Alves, Maria Isabel Pires, Sara Sapateiro e pela ADOE – Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz.
Atualmente, encontram-se inventariadas mais de cem figuras diferentes e, todos os dias, se inventam novas temáticas, sempre relacionadas com o quotidiano das gentes alentejanas, na sua vivência rural e urbana.
As mãos habilidosas que trabalham o barro dão vida às emblemáticas Figuras que, com as suas cores garridas e formas únicas, encantam quem por aqui passa. Disso são exemplo os famosos ‘Presépios de Altar’, o ‘Amor é Cego’, a ‘Primavera’, os ‘Fidalgos e Fidalguinhos’ ou, mais recentemente, o boneco ‘Rainha Santa Isabel’.
As primeiras referências ao figurado de Estremoz são de princípios do séc. XVIII, tendo a sua produção entrado em declínio no início do séc. XX.
Em 1935, José Maria Sá Lemos, então Diretor da Escola Industrial de Estremoz, convenceu a artesã Ti Ana das Peles, que apenas sabia modelar “Assobios”, a ensinar o que sabia da arte e a participar no processo de “ressuscitar” as figuras que já ninguém modelava desde a década passada.
Nascido na freguesia de Mafamude, em Vila Nova de Gaia, a 11 abril de 1892, o escultor e professor José Maria de Sá Lemos era neto de Teixeira Lopes (pai). Durante os anos em que viveu em Estremoz, para aí lecionar, teve um papel fulcral na recuperação dos Bonecos de Estremoz, então em decadência, ao conseguir que a bonequeira Ana da Silva, conhecida como tia Ana das Peles, transmitisse o seu saber. Este foi depois fixado pelo oleiro mestre Mariano da Conceição (1893-1940) a partir da Olaria Alfacinha (1868-1995), fundada pelo seu avô Caetano Augusto da Conceição.
Com o artista Mariano da Conceição, Sá Lemos concebeu, durante os anos 40, o famoso Presépio de Altar do Figurado em barro de Estremoz, que associa a tradição dos presépios à dos tronos dos santos populares, gerando, assim, uma nova peça que hoje é uma das mais representativas da estética do barro local e do artesanato português em geral.
Em 20 abril de 2015, a Produção de Figurado em Barro de Estremoz foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por proposta do Município de Estremoz, dando assim continuidade ao processo de valorização e salvaguarda deste património encetado pelo escultor gaiense discípulo de António Teixeira Lopes. Finalmente, a 7 dezembro de 2017, a Produção de Figurado em Barro de Estremoz foi inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade’.
Fontes documentais
Câmara Municipal de Estremoz
Sá Lemos, José Maria de – “O Avô, alma de artista – Teixeira Lopes (Pai)” in Boletim Cultural de Gaia, nº 2, Novembro de 1966
Universidade Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2017
Créditos de Imagem
José Maria Sá Lemos com Ti Ana das Peles na Escola Industrial António Augusto Gonçalves, 1935(?). In: Guerreiro, Hugo. 2018. Figurado de Estremoz. Produção património imaterial da humanidade. Estremoz/Porto. Edições Afrontamento.pp.30